quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SÍNDROMES - UMA REFLEXÃO



POR MÁRIO INGLESI

Em relação a: http://saudeconsciencia.blogspot.com/2011/09/saude-x-doenca-geracao-z-tdah.html

Dr. Ricardo

As siglas TDAH, PMD, TAB, HAS, DM e outras síndromes afins, vêm se estendendo como um grande lençol sobre as cabeças de crianças, adolescentes, jovens e adultos em geral deste país, tornando-os uma leva de zumbis, pairando nas classes escolares da maioria dos institutos de ensino, particulares ou públicos.
À primeira vista tais siglas parecem corresponder a novas agremiações partidárias, não fora o fato de não terem em suas iniciais o famoso ”P” indicativo de Partido político.
Mas isso, com a velocidade de trem bala, como vem ocorrendo, não faltará oportunidade para que seus portadores fundem tais agremiações, sob o slogan geral de Tarja Preta, o Remédio da Hora.
Tais agremiações, obviamente carrearão para suas fileiras, adeptos de todas as camadas da população, como pais, mães, donos de instituições educacionais, medicinais, farmacêuticas e etc., bem como, de modo particular médicos, psicólogos psiquiatras, sempre sob os auspícios da indústria farmacêutica e congêneres e com o aval do poder público.
Essas agremiações se tornarão tão eficientes que logo, estarão com candidatos a vagas nas prefeituras locais, nas assembléias legislativas, e posteriormente, na Câmara e no Senado Federal, quando então se fará uma grande campanha para eleger-se o primeiro portador de uma das síndromes para o cargo de Presidente da República, mostrando assim não haver, no País, qualquer discriminação, contra os “doentes” de distúrbios psicológicos nomeados por tais siglas.
Antes disso, é óbvio que deverão fundar uma instituição, quiçá sindical para salvaguardar os direitos da classe e lutar pela inclusão da doença e seu tratamento pelos planos de saúde, bem como a distribuição gratuita dos remédios “tarja preta” e que tais pelos postos de saúde de todo País. 
Epa! O assunto é sério, como tratá-lo com tal leviandade? Ora, o massacre de remédios com tarja preta ou não contra crianças, adolescentes e jovens com o respaldo de médicos e psicólogos é seriíssimo e nem por isso, os responsáveis ou as autoridades constituídas, sejam elas de que escalão, se manifestaram sobre isso ou tomaram qualquer providência contra, apenas ousaram calar-se num longo e tenebroso silêncio.
E mais, os pais compartilham desse massacre por ignorância ou, em última instância por insistirem em preservar, levianamente, a todo custo, um futuro de ganhos e status para seus rebentos.
Ora, estímulos, na era da informática é público e notório. Afinal com o bombardeamento de informações e a complexidade do mundo na atualidade, não há como barrar as crianças, os adolescentes, os jovens de permanecerem conectados nesse mundo, fato que, para muitos cientistas é proveitoso, uma vez que estão se desenvolvendo novas habilidades cognitivas.
O que realmente está trazendo os inúmeros problemas indicativos pelas siglas em questão, é o fato de que a maioria das matérias que se ensina e a maneira como elas são ensinadas não demonstra maior interesse, inclusive por não existir interatividade, compartilhamento de informações, interesses diversos.  Tudo está submetido unicamente a “notas” de provas, não havendo estímulos à formação de pensamentos críticos, no intuito de entender-se o mundo em que vivemos.
Veja-se o que acontece com a proclamada leitura de livros, As escolhas são feitas pelos professores e mesmo assim sob o aval da escola. Os alunos são alijados de qualquer escolha, e de seus critérios. Com isso, a leitura torna-se mais uma tarefa tediosa que o aluno deve cumprir.
Os já consagrados “déficits de atenção” – é preciso convir – vem de uma escola e escolaridade defasadas e ineptas, desinteressantes, dignas de muitos e muitos bocejos. Realmente, não há aluno que agüente. Vem dai – é de se crer – o burburinho em classe, as conversas paralelas, as tensões entre professores e alunos, o stress de educadores e educandos. Imagine-se uma classe – como a maioria -, de 40 ou 50 alunos, com um professor tendo que driblar todos os desmandos e ainda, agora, cuidar dos portadores de "Déficits de Atenção" e/ou de hiperatividade. Cruz Credo! Protegei-os. Os professores não merecem tal carga. Afinal, não ganham o bastante como professores e, muito menos, para serem babás ou enfermeiros, gratuitamente, de quem quer que seja dentro de um estabelecimento de ensino.
Quanto à hiperatividade, é preciso convir que os pais também são muito responsáveis por elas. Afinal, no afã de promover os filhos a futuros “stars”, eles os obrigam a estudos diários de quase 24 horas, como, por exemplo, estudar línguas, - mesmo em tenra idade -, fazer academia, jogar futebol, ler livros, preparar-se para uma entrevista de emprego, portar-se convenientemente, vestir-se com adequação para as ocasiões, etc. etc., não dando espaço aos filhos para viverem uma infância ou adolescência mais condizente com a idade de cada um, bem como fazê-los caminhar com os próprios pés. Isso não é dar condições de vida, mas sim, criar “robôs” apenas isso.
Que lembranças gratas da infância ou juventude restarão na memória quando adultos, se não brincaram, não curtiram a natureza, não se sujaram, não se plasmaram na roda da vida?, Como bem situou, o poeta Francisco  Otaviano:

Ilusões de Vida
Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi espectro de  homem – não foi homem,
Só passou pela vida – não viveu.

Permanecem, deste modo,  como “A Casa “ poema  infantil de Vinícius de Moraes, apenas uma brincadeira, um   “non sense” triste e, não menos  patético, no caso.

A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia 
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

É essa “Casa” que estão construindo com a prescrição e uso desmesurado de remédios de “tarja preta” ou não, respaldados apenas por esse novo filão mercadológico em alta e configurados por todas essas siglas, cuja nomeação popularesca revela a “Síndrome da Falta de Educação”
Caro amigo, muito ainda haveria de ser dito a respeito e mais ainda a ser feito, mas, por ora fiquemos aqui.
Grato por proporcionar sempre alguma reflexão certa ou não sobre assunto tão relevante e atual.
Abraços
Mário Inglesi 16/09/2011

6 comentários:

  1. Bom!
    Os professores hoje em dia não são respeitados como deveriam, e não são bem remunerados.
    E a super lotação das salas de aula é prejudicial para os mestres e ao apredizado dos alunos.
    Beijos!

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  2. Como se vê nas reflexões abordadas, tanto por profissionais como por leigos, ninguém é contra tratamentos ou medicamentos, mas sim contra abusos, modismos, oportunismos em geral. Também devemos ser contra as carnes com hormônios, os alimentos com venenos coloridos, as inocentes gelatinas, torradinhas e bolachinhas carregadas de gorduras trans, (detalhe: são servidas em hospitais) os tratamentos cosméticcos cheios de formol e outras substâncias danosas, os brinquedos com substâncias tóxicas, as mamadeiras produzidas com material cancerígeno, etc, etc... Meu Deus, quanta coisa ruim! Vamos evitá-las. Assim mesmo vai passar muita e muita porcaria. Po isso, não custa nada o alerta para que sejamos mais conscientes e mais coerentes com o mundo que habitamos. E olha que é por pouco tempo! Se as coisas não derem certo tá todo mundo no mesmo barco, não é mesmo?
    Abraços e parabéns por essa humana preocupação.

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  3. "Dê poder a um homem e verá quem ele é."
    O poder máximo em sala de aula é do professor.
    A que estão submetidas as nossas crianças?
    A quem estão submetidas as nossas crianças?
    Será que as vitimas são escolhidas de forma aleatórias?
    http://diariodovale.uol.com.br/noticias/7,46547,Crianca-de-10-anos-atira-em-professora-e-se-mata-em-Sao-Paulo.html#axzz1YypVcFY6
    O que acontece dentro das salas de aula?
    Será que o profissional de saúde está pronto para ouvir?
    Não seria mais fácil receitar?
    Como essa situação será resolvida?

    May.

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  4. Todas essas bem colocadas reflexões e considerações leva-nos a repensar este mundo muito louco em que vivemos.Parece que desde o nascimento ,até a morte, a didática e a pedagogia aplicadas por profissionais cada um especialista em sua área ,podem ser comparadas ao exagerado uso dos remédios de faixa preta como salvadores da PátriaIsso vindo de intelectuais universsitários, pós graduados, e doutores.Imagine o que esperar da grande maioria de pais,cerca de 90/100,com nível médio, nível primário ,ou mesmo analfabetos ,responsáveis primeiros ,pela educação de seus filhos?Mas com blog como este, a esperança de que o mundo vai melhorar continua.Parabéns meus caros doutores.

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  5. Ricardo

    Grato por essa mensagem. Pessoalmente eu tenho horror, verdadeira birra de siglas. São todas acomodações, sectárias, individuais, fantasias de mentes acomodadas, etc. São sinais de uma civilização apressada, desligada da beleza da linguagem, robotizada. Nos prontuários médicos, cada geração tem suas siglas próprias, os profissionais escudam-se atrás de siglas próprias de cada especialidade, subespecialidades, etc
    Enfim, é um verdadeiro SAMBA DE C. DOIDO!!!!!
    Abraços. Marco Tullio

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  6. O tarja preta é o remédio da sociedade do imediatismo e da intolerância. Solução pronta e rápida, não importa quanto custosa.

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