segunda-feira, 4 de junho de 2012

ARTE MARCIAL E CONSCIÊNCIA


Texto de Maria Paula T. de Castro, Bacharel e Licenciada em Física pela USP, e aluna da Academia Sino-Brasileira de Kung-Fu de São Paulo. Janeiro 2006.

Grão-mestre Chan Kowk Wai

É de senso comum que o conceito de Arte Marcial engloba um sistema de treinamento completo em si, que vai muito além do combate puro e simples. A Arte Marcial é um conjunto de filosofia, tradições de combate e técnicas. Cada arte marcial é herdeira de uma determinada tradição e constitui um todo coerente, em que as técnicas são devidamente enquadradas por conceitos filosóficos e por rituais tradicionais. Em cada especialidade (ou luta), temos a graduação em níveis de acordo com a evolução do praticante, tanto no nível físico (técnicas), como no nível filosófico.
Sem dúvida, as técnicas de combate constituem a faceta mais evidente das artes marciais, uma vez que a eficiência dos golpes é algo de fácil observação. Porém, o aspecto que mais chama a atenção do leigo não é o combate em si, e sim a disciplina que há por trás do treinamento. A disciplina é exigida não só pelo treino físico, como também pela prática filosófica. 

São os conceitos filosóficos e rituais tradicionais que fazem do simples combate uma Arte Marcial, e não a eficiência de seus golpes.

A tradição milenar, que tanto encanta o homem ocidental, se torna presente justamente ai: na transmissão dos ensinamentos de mestre para discípulo. A figura do mestre tem um papel preponderante nesse processo. O conhecimento, preservado através do exercício do respeito, é a grande marca das artes marciais.
No início, com a juventude e o vigor do corpo físico, o praticante dá ênfase apenas ao treino físico, mas, com o tempo e a serenidade, começa a vislumbrar outras possibilidades. O mestre então, acompanha a evolução do aluno e, na hora certa, dá novos elementos para que ele possa avançar segundo suas novas habilidades. A presença do mestre é, portanto, de suma importância para que a tríade técnica-filosofia-religião seja colocada, de maneira justa, para cada um. É esse conhecimento milenar que, estando oculto atrás das técnicas de combate, torna as Artes Marciais tão atraentes.
Mas, para muitos praticantes das Artes Marciais, durante um bom tempo, tudo se resume nas técnicas de ataque e defesa. A tradição herdada por cada uma das artes define um estilo, que contém técnicas desenvolvidas conforme a época e local em que foi criada. Assim, há diversas artes marciais como as indianas, as chinesas (wushu), as japonesas (bushidô) e as coreanas, cada uma com suas características próprias. Até no ocidente há hoje algumas ditas “artes marciais” reconhecidas, que surgiram da necessidade de adaptação de técnicas, para que fossem mais eficientes no combate, ou se adaptassem à realidade local.
Todos os estilos, porém, têm em comum o objetivo final de alcançar a invencibilidade. Mas, devemos lembrar que se trata de vencer não apenas o inimigo externo, mas principalmente o interno. Isto é, conhecer-se: saber do que se é capaz, quais suas virtudes e quais seus pontos fracos. Isso porque, em nosso mundo moderno, ainda que estejamos vivendo uma grande evolução tecnológica, a essência do ser humano continua sendo exatamente a mesma, e suas necessidades também.
Há milhares e milhares de anos, grandes mestres das artes marciais têm colocado que o trabalho do discípulo deve ser o de canalizar a energia interna através do treino e da disciplina, unificando assim mente, corpo e espírito, tendo como objetivo final a integração homem-universo. O treino das artes marciais, com o devido tempo e dedicação, tira o praticante do antagonismo preliminar do combate corpo-a-corpo e o leva a uma transformação de seu próprio ser.
A essência das artes marciais consiste justamente nessa mudança de enfoque: não se trata de vencer o oponente, mas sim de vencer-se a si mesmo.

9 comentários:

  1. A base do exercício é o movimento.Não há movimento sem o pensar e o agir,daí vem o aperfeiçoar-se e o vencer a si mesmo.Viver é como andar de bicicleta ;se parar perde-se o equilíbrio e cai.Eis a grande importância das Artes Marciais.Um forte abraço para a professora Maria Paula e doutor Ricardo.

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  2. Boa tarde!

    Sou engenheiro e praticante de uma arte marcial japonesa - Kendô (Caminho da espada).
    Nessa modalidade para se ter um ponto válido, necessitamos 3 elementos presentes: KI - KEN - TAI
    KI (de Kiai - grito - espirito)
    KEN (Espada - Técnica)
    TAI (Corpo - )
    Reflexão: na vida temos que ter esses 3 elementos presentes também - KI-KEN-TAI, para quaquer tipo de empreendimento, atividade, no cotidiano, etc...

    Forte abraço Dr. Leme e Profa.Castro

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  3. Eu pratico uma arte oriental, judo especificamente, e é bem claro pra mim que o grande valor da arte marcial é transmitir bons valores e boa conduta. E exatamente como foi dito, para mim o professor é peça chave nesse processo. Vê-se claramente a presença do mestre na conduta de seus alunos.

    Um abraço, Ricardo

    Alexandre M.

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  4. Boa Noite Dr. Ricardo e Profa.Castro.
    Bom, eu não tenho conhecimento das artes marciais; o pouco que sei é dos filmes que assisti. A prática das artes marciais, o grande vencedor é quem vence a si próprio.
    Vencendo seus próprios medos e limitações. Expandindo para o conhecimento, e controle de si próprio. A prática das artes marciais, contribui para um conhecimento profundo de como funciona realmente o ciclo da vida.
    Abraços.

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  5. Sempre surpriendendo anjo da guarda.
    Adorei.

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