segunda-feira, 16 de julho de 2012

SER HUMANO É GERAR SAÚDE


POR: BERNARDETTE VILHENA


Consultora pedagógica em empresas, percebo a carência individual em aspectos ligados ao Desenvolvimento Pessoal. Queixas de insatisfação pessoal, semblantes apagados, falas carregadas e falta de motivação. Me alegro quando é possível participar dessas vivências e mostrar a Vida por outro ângulo: o das possibilidades. Após me perguntar se eu poderia colaborar na formação humana dos estudantes, um universo se abriu quando passei a ensinar Relações Humanas para alunos de 17 a 23 anos.
Como educadora, constato a todo o momento, o quanto as disciplinas relacionadas ao Desenvolvimento Humano são promotoras de saúde. Entender o sentido existencial, perceber a singularidade em cada ser vivo, respeitar a diversidade, educar a inteligência, mas também o sentimento, buscar a saúde emocional e olhar além do breve período existencial aqui na terra, são apenas alguns dos desafios que esta formação propõe. Isso pode ser feito adentrando-se no sagrado, complexo e instigante universo interior do ser humano. Um olhar baseado na formação integral, conforme Comenius no século XVI:
Educar para iluminar todos os homens com a verdadeira sabedoria, para ordenarem suas vidas com verdadeiros governos e para uni-los a Deus com a verdadeira religião, de modo que ninguém se equivoque em sua missão neste mundo”.

A atitude respeitosa do educador é um poderoso agente de transformação, criando um ambiente amistoso para que trocas significativas ocorram. Como consequência, muitas vezes o professor acaba aprendendo mais que ensinando!
O estímulo a mudanças de comportamento é o fio condutor do trabalho, através de pesquisas acadêmicas e textos científicos na área do desenvolvimento humano, sempre buscando observar, compreender e harmonizar o ponto onde se encontram o sentimento e a atitude frente ao mesmo. Exemplos cotidianos provocam a identificação instantânea percebida nas reações e expressões corporais dos alunos.
A participação nas propostas é intensa, nas palavras deles: “em contato com pontos de vista diferentes, enxergando a vida em suas inúmeras possibilidades, sentindo-se capazes de entrarem em contato com sua essência, transformando aos poucos suas atitudes”.
A partir de “ferramentas” promotoras de autoconhecimento, se coloca em prática o aprendido, na medida em que se responsabilizam pelo que acontece em suas vidas. Aprendem sobre a necessidade de uma alimentação mental e emocional saudável, quando questionados sobre como conduzem o seu cotidiano: programas de TV, músicas, conteúdos na internet, relacionamentos desordenados, pensamentos autodestrutivos, comportamento ético entre outros.
O caminho das mudanças de comportamento é longo e cheio de percalços, conforme o poeta:

Autobiografia em cinco capítulos
 1. Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.

2. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.

3. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.

4. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.

5. Ando por outra rua.

(Texto extraído de "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer" -“ Sogyal Rinpoche -“)

As conquistas em seu tempo, às vezes despercebidamente, estão ali formando novos hábitos e dias mais tranquilos.
Em um segundo momento, os conhecimentos em relação ao Eu são transferidos para a relação com o outro, conforme Martin Bubber, sendo a base para esse trabalho. Apesar do egoísmo atual, onde a relação com o outro é por vezes mercantilista e sequestra subjetividade, nesse momento o respeito e um olhar mais atento ao outro é discutido. Quando se entra em contato com a beleza e com as dificuldades de Ser, aumentam as chances de sermos capazes de respeitar o outro ou nas palavras de Dora Incontri:
A educação faz com que as pessoas se sintam responsáveis pelo outro, responsáveis pela sociedade, responsáveis pelo planeta.”

A prática das virtudes é o agente motivador da autorreflexão que conduz ao encontro da coerência entre sentir e agir. Toda caminhada começa com o primeiro passo, enfim:
“A coragem mais corajosa é a do homem olhar-se a si mesmo. É preciso buscar, sim... o que se oculta por dentro de nós.” (Rousseau)

Abraço com a certeza de que o conhecimento liberta!

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