terça-feira, 2 de outubro de 2012

SOBRE VIVER E MORRER COM SAÚDE III

POR MÁRIO INGLESI - A ALEGRE SORRATEIRA III - continuação

IKIRU - Réquiem para Pina Bausch / Tadashi Endo



É também preciso convir que a “morte” não é mero “estranho no ninho” ela faz parte integrante da vida: “Tudo que nasce, um dia morre”. Assim, apenas preocupar-se com a morte fora de nós mesmos, não é o bastante, é irrisório. É preciso cuidar e muito dos conteúdos irrelevantes e nocivos que entram pela nossa boca ou pelo nosso cérebro, que também se manifestam como “crônica de uma morte anunciada”.
Assim, um consumo alimentar desenfreado e inadequado, em razão de excessos de aditivos, gorduras, e nutrientes inadequados, depaupera o organismo, cria epidemia de obesidade, e conduz, como o ingerir refrigerantes, em excesso, a doenças mórbidas que levam paulatinamente a “morrer sem querer morrer”.  O mesmo acontece com o cérebro. Se o enchermos ou preenchermos, inadvertidamente, com excessos de informações inúteis, não deixando espaços primordiais às noções imprescindíveis ao desenvolvimento e desempenho mental, também se esboçam, ainda que sorrateiramente, doenças que o levam à ruína e à morte, paulatinamente,
Ainda que com certo exagero de manifestação da autora, tenha-se, sempre em conta, o pensamento da escritora Susan Sontag (1933-2004) (in FSP – Mais!, de 22/10/2006):

 “Gosto de me sentir burra; é assim que há mais coisas no mundo além de mim.”

Com isso, obviamente, o indivíduo terá consciência de si mesmo numa viagem ao interior do EU, com reflexões importantes à altura de uma existência digna, mesmo diante da morte e suas implicações materiais e imateriais, num preparo satisfatório a sua compreensão e seu enfrentamento.
Assim, embora saiba de seus estragos, é preciso convir:

A vida é um hospital
Onde quase tudo falta
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta
(Fernando Pessoa, in “Quadras ao Gosto Popular”, Obra Poética, ed. Aguilar, 1972).
 Ou ainda,

“A morte de tão depressa
Nem repara no que faz.
A cavalo de galope
A cavalo de galope
me deixou sobrante e oco”
(Carlos Drummond de Andrade, in A morte a cavalo, Poesias Completas, (ed. Aguilar),

Ikiru (Viver) - Akira Kurosawa 1952 - Imperdível
Portanto, nós humanos, devemos batalhar para não engendrarmos, por inoperância, descaso ou simplesmente afoiteza, um viver supérfluo, apenas vegetativo ou improdutivo: “A Morte Absoluta”.

“Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: “Quem foi?…”

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome”
 (Manuel Bandeira: “A Morte Absoluta” in Poesia e Prosa - Ed.Aguilar).

No viver para a morte, o ser humano apesar da sua consciência sobre a sua finitude e dos avanços da ciência para prognosticar o final, o ser humano, nas horas vagas, no silêncio de seus momentos, só, no íntimo de seu ser, padece sofregamente ao saber – só ele – por antecipação, que um dia haverá a volta para casa, - perecerá - voltará ao pó de onde veio. Não haverá mais o ego dominante, do querer ou não querer. A esse padecimento congrega-se o trabalho diário, intenso, insano em favor do cumprimento das obrigações que lhe impingem a vida social e o poder público, para afinal, render-se, muitas vezes, à velhice, e suas doenças inimagináveis e fatais. Que sina, hein!

OS IRMÃOS TANATOS E HIPNOS (O MORTE E O SONO)

2 comentários:

  1. Diz o Mário:
    "É preciso cuidar e muito dos conteúdos irrelevantes e nocivos que entram pela nossa boca ou pelo nosso cérebro, que também se manifestam como “crônica de uma morte anunciada”."
    Cpmplementa o dr. Ricardo:
    -IKIRU - Réquiem para Pina Bausch / Tadashi Endo
    -Ikiru (Viver) - Akira Kurosawa 1952
    -OS IRMÃOS TANATOS E HIPNOS (O MORTE E O SONO)
    Conteúdos não faltam e aqui temos estes dois ótimos exemplos. É só ficarmos atentos aos que nos são impostos, e, filtrá-los.
    Abraços e parabéns aos dois.

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  2. Vamos refletir esta frase de Hans kelsen, filósofo grego,e concluirmos qual seria o seu sentido e alcance:

    "Se aquilo que eu penso que o outro deve fazer fosse uma modalidade de dever-ser, então aquilo que eu penso que o outro faz também seria uma modalidade de ser".

    O que seria o mundo do "ser" e do "dever ser".

    Abraços

    Roberto

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