quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SOBRE VIVER E MORRER COM SAÚDE V

POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" V - CONTINUAÇÃO


Meet Joe Black - Encontro Marcado - A morte e o Amor...



É preciso ter em mente, ainda, que a morte é tema recorrente que paira como uma sombra que se espraia e se agiganta sobre os nossos sonhos, fracassos e mais ainda, sobre o envelhecimento, quando além de perdermos entes queridos, perdemos as nossas referências culturais e não conseguimos mais nos enxergar no espelho como nós mesmos, tal como acontece a Willy Loman personagem principal de Death a Salesmaan (a Morte do Caixeiro Viajante), drama do dramaturgo americano Arthur Miller.
E mais, a morte viceja deslumbrante e de modo imortal, não apenas no cinema e nas artes cênicas, mas também nas artes plásticas, desde há muito, em quase todas as suas modalidades e escolas, a começar pelas deslumbrantes figuras de Cristo e sua crucificação, e os mais diversos movimentos históricos, como revoltas, revoluções e guerras que assolaram o nosso Planeta desde eras remotas, cuja afixação em telas fizeram a glória de artistas plásticos, desde o classicismo e o barroco até dias bem próximos, como, no Brasil, por exemplo, despontam em Portinari e Lasar Segall.  
  As mortes que nos devem realmente preocupar são as sociais, aquelas advindas da inépcia ou omissão, descaso das autoridades, ditas competentes, dos preconceitos, das balas perdidas, da matança dos moradores de rua, da higienização citadina, ora em voga, da fome, que ainda campeia em larga escala por todo lado, das inundações, dos deslizamentos de terra e consequentes soterramentos de famílias inteiras, das moléstias advindas da ausência de saneamento básico, das mortes ocorridas nas cadeias e presídios, em brigas e matança por um espaço onde se possa respirar. Todas essas, e outras mais merecem, sim, nossa atenção, nossas horas em claro, nosso infortúnio, nossa revolta, mas devem mais ainda, promover a nossa mais profunda reflexão, pois elas nos podem atingir, a todos, involuntariamente.

 
Além da vida - Heareafter - A morte e a sorte...

Nessa mesma instância, cabem as mortes oriundas das guerras – “a desmedida de todas as coisas”, (Daniel Pizza. Aforismo sem Juízo) – ora localizadas – advindas por injunções de interesses da indústria bélica e dos países que as fomentam por interesses escusos, como, por exemplo, a salvaguarda do petróleo para o fomento de suas indústrias congêneres.
Tais mortes que somam à destruição, invalidez ou mutilação de um enorme contingente de pessoas a céu aberto, por estarem em campos de batalha muitas vezes desconhecidos e muito distantes, não criam em nós outros, maiores embates de sofrimentos, dores ou mal estares, ou mesmo repulsas, pois não conseguimos nem de longe, suspeitar o quanto de horror fomentam tais guerras e suas mortes anônimas. Só mesmo lendo os vários artigos da escritora Susan Sontag que esteve in loco na Guerra da Bósnia, ou, vendo alguns filmes que tratam da guerra do Afeganistão, como, por exemplo, “O Caminho de Kandahar”, (2001) do cineasta Molsen Makhmalbc, ou da guerra do Iraque, como “Filho da Babilônia” (2009), de Mohamed Al Daradji, para termos, mesmo que ficcionalmente, ideia atual da mortandade que envolve, com suas guerras de destruição material e humana incalculáveis, ainda em pleno século 21, o nosso Planeta Terra. É preciso convir também que nessas guerras – só restam, por último, a enormidade de entulhos e os abutres em cima da carniça - não há vencidos nem vencedores, e muito menos heróis, ou vilões, mas apenas vítimas, sejam quais forem os lados, como muito bem focou o cineasta Quentin Tarantino, em seu filme “Bastardos Inglórios,” (2009).
Em se tratando dessas mortes obscuras e insanas, é preciso conclamar em alto e bom som, com Maiakovski:
 “Odeio
a morte e seu mortiço.
Adoro
aquilo que é vida.”
 (de Vladimir Maiakovski (1893-1930) “Jubileu”, trad. Haroldo de Campos, in Antologia da Poesia Russa Moderna, ed. Civilização Brasileira, 1968).



8 comentários:

  1. Muito pertinentes as considerações do Mário sobre a morte por preconceitos, sejam eles quais forem.
    Imagine matar um morador de rua, um pobre desvalido.
    Sem comentários!...
    Abraços.

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  2. E viva a vida bem vivida.bjs

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  3. Como dizia a minha avó: "...para morrer, basta estar vivo!"
    Achava isso engraçado talvez pela aparente simplicidade da proposição.
    Porém hoje vejo que viver não é tão simples. Creio que porisso tememos a morte.
    Talvez por não termos vivido com tanto entusiasmo...

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    1. Olá!

      Sobre o porquê da morte, caso haja intreresse, veja como pensa Tolstói no livro: "Onde existe amor, Deus ai está" no capítulo "Trabalho, Morte e Enfermidade"

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  4. "—Somos muitos Severinos
    iguais em tudo na vida.
    Morremos de morte igual,
    mesma morte severina:
    que é a morte de que se morre
    de velhice antes dos trinta,
    de emboscada antes dos vinte,
    de fome um pouco por dia,
    (de fraqueza e de doença,
    é que a morte severina
    ataca em qualquer idade,
    e até gente não nascida).

    Somos muitos Severinos
    iguais em tudo e na sina:
    a de abrandar estas pedras
    suando-se muito em cima,
    a de tentar despertar
    terra sempre mais extinta,
    a de querer arrancar
    alguns roçado da cinza.
    (...)

    — Severino, retirante,
    deixe agora que lhe diga:
    eu não sei bem a resposta
    da pergunta que fazia,
    se não vale mais saltar
    fora da ponte e da vida
    nem conheço essa resposta,
    se quer mesmo que lhe diga
    é difícil defender,
    só com palavras, a vida,
    ainda mais quando ela é
    esta que vê, severina.
    Mas se responder não pude
    à pergunta que fazia,
    ela, a vida, a respondeu
    com sua presença viva.

    E não há melhor resposta
    que o espetáculo da vida:
    vê-la desfiar seu fio,
    que também se chama vida,
    ver a fábrica que ela mesma,
    teimosamente, se fabrica,
    vê-la brotar, como há pouco,
    em nova vida explodida
    mesmo quando é assim pequena
    a explosão, como a ocorrida
    como a de há pouco, franzina,
    mesmo quando é a explosão
    de uma vida severina."

    João Cabral de Melo Neto,
    Morte e Vida Severina.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. A morte realmente não existe, o que realmente dói é falta que a presença física vem a machucar o nosso coração, pois é necessário que a morte aconteça para que habitemos esferas superiores ou inferiores dependo da nossa conduta neste planeta escola que nos ensina por meio de provas e expiações.
    O segredo é viva a vida com alegria para no futuro colhermos bons frutos, pois o verdadeiro tesouro esta em nosso coração.
    Parabéns anjo da guarda!

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