sexta-feira, 1 de março de 2013

SOBRE VIVER E MORRER COM SAÚDE VIII

POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" VIII - PARTE FINAL DE:


http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/09/a-alegre-sorrateira-i-viver-com-saude.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/09/sobre-viver-e-morrer-com-saude-ii.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/10/a-alegre-sorrateira-iii-viver-com-saude.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/10/sobre-viver-e-morrer-com-saude-iv.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/11/sobre-viver-e-morrer-com-saude-v.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/12/sobre-viver-e-morrer-com-saude-vi.html 
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2013/02/sobre-viver-e-morrer-com-saude-vii.html 



Sobre a morte de animais

Pena que toda essa parafernália funérea está até mesmo transferida para a morte dos animais domésticos, - nada contra os animais domésticos -, num inócuo desperdício de dinheiro e quiçá de advento de dívidas, pois o crédito consignado ou não, está aí para servir a todos e a tudo.

 
Documentário "Terráqueos" - Reflexão
 
Com isso, parece que a propalada igualdade é um fato em evolução inconteste. Infelizmente, entre humanos e animais. Também - pudera! - não temos a invejável Sociedade Protetora dos Homens, apenas a dos Animais. Que pena hein!  Como canta Valdick Soriano “Eu não sou cachorro não”. Em contrapartida, os cães e gatos também não tem uma Declaração Universal de Direitos. Estamos quites.
Nisso tudo, é preciso considerar que poucas são, aliás, as necessidades funéreas:
Uma enxada e um lençol;
Um buraco cavado em terra
À tal hóspede bem convém”
 (Canta o 1o, coveiro in Hamlet, Ato Quinto, de Shakespeare, Ed. Aguilar, vol. 1).

 Muitos punhados de terra e uma pá de cal para encerrar todo o cerimonial da morte e, com isso, o tema/motivo deste texto, que se fez ao som do “Réquiem de Mozart”, para acolher com galhardia a transcendência, que a ocasião exigia a uma ode fúnebre, porém, sempre, talvez, como um nefelibata, em favor da vida plena e exuberante.

 
Réquiem - Mozart - Karajan
Dizem - as más línguas - que a morte não é tão feia quanto pintam. Pode até ser, mas que causa arrepios – isso causa – principalmente para quem gosta da vida, ainda que saiba que diante da morte ela é uma “causa perdida”.
Travestida, em sua apresentação, na sua forma última, cadavérica, a morte com sua terrificante foice em punho é um bom motivo para temores, principalmente para quem tem planos, projetos e vontade de abrir caminhos novos ou enfrentar alegrias, satisfações e, em especial risos, o melhor remédio, alardeiam todos. Mas, afora isso, a morte muitas vezes se oferece como um bálsamo, uma dádiva como um afastar de sofrimentos e desilusões e, quiçá, como uma maneira de atingir a eternidade, num “lar imaginário”: “ele foi para uma vida melhor”, sem pensar num imenso e profundo vazio a céu aberto, inversamente do que prega a maioria das religiões, principalmente a religião católica, que em sua configuração de santos, anjos e demais ícones, sempre preserva e qualifica os mortos, a começar pela entronização e preces a um Cristo morto, suas agruras e seus apóstolos, até hoje consagrados nos ritos e imagéticas.
A deliciosa vida humana, entretanto, oferece a nós, humanos, um imenso teatro onde podemos travestir de formas, imagens e sentimentos os mais díspares; para podermos balouçar entre reinos diversos e ludicamente criarmos fantasias imaginosas e delirantes, onde a morte, quando muito, é mera encenação, para atiçar nossa imaginação, tal como, aliás, faz Edgar Alan Poe, com seu poema “O Corvo”, cuja estrofe final se nos oferece como ilustração:
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh’alma dessa sombra, no chão há mais e mais
Libertar-se-á… nunca mais!
(in O Corvo, trad. de Fernando Pessoa, Ed. 7 Letras).

Tal encenação, não afasta as defensivas que devemos ter para com a pressa, a rapidez, a solidão e tantas outras factuais que consomem nossas vidas e nos levam à morte prematura e inconscientemente advinda e, quando menos esperada, causando-nos infortúnios e dores não arrazoados.
Portanto, ao invés de alardearmos com a morte, cuja concretização, depende, na maioria das vezes, de contextos historicamente contingentes, nada melhor do que se fazer um juízo crítico do seu acontecer em favor do enfrentamento de suas causas, como a violência, - doméstica ou não -, a todos produtos industrializados ou não, prejudiciais à saúde como causadores da obesidade, a pressão alta, o colesterol ou ainda os causadores virais de doenças e mortes, a poluição, as tensões e prostrações advindas do mundo do ter, etc. etc., esquecendo que “parecer é não ser”, arrematou Ferreira Gullar.
A morte - não das pequenas coisas ou seres animais - mas a morte humana está entre os males maiores que predominam na sociedade humana. É certa a sua inexorabilidade, mas também é bastante certa o seu possível afastamento, na infância, adolescência, de grande número de seres, todos marginalizados pela fome e por carências outras, sem condições de alçar a voz para que sejam ouvidos em suas súplicas por um pedaço de pão, por um cobertor ou por um olhar ou abraço amigos. “Gente que vai em frente, sem nem ter com quem contar”. (*)
O lema da Revolução Francesa conclamando liberdade, igualdade, e fraternidade, com democracia, não se fez ainda amplamente presente no planeta neste início de século para grande parte da humanidade.
Portanto, nada de “laissez faire, laissez passer: le monde vá de lui même”. Desde que o mundo é mundo, a sociedade humana interferiu nele para o bem e para o mal, fazendo-o prosperar por seus afazeres múltiplos, isto é, com o trabalho, os estudos, as pesquisas, a ciência e as artes, sem denegá-lo naquilo que há de mal e para o qual nunca se abstraiu em demovê-lo. Aliás, Daniel Pizza, em seu "Aforismo Sem Juízo", proclamou:
“Não dá para defender mundo mais democrático e achar que não se deve fazer nada.”
Que o lavor torne realidade a esperança e, não, tão só uma ‘ilusão passageira’, de abrir portas e janelas e cantar:
“Eu quero ver um dia
numa só canção
o pobre e o rico
andando mão em mão
Que nada falte
que nada sobre
O pão do rico
O pão do pobre”(*)

Para isso e não por acaso, Bom Conselho

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade. (*)

Para que mais não fosse:

“Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão. ”(*)
 (*) in “Chico Buarque Letra e Música,” vol. 2, Cia das Letras, 1989.
 
Reflexões ou ruminações sobre a morte: Um bom começo. É manifestamente atitude de reversão à vida em sua plenitude com um viger prolongado satisfatório e saudável, bem-vindo, bem-quisto, sem exclusão ou enfrentamento, mas apenas com o compartilhar de correlações diversas, mas não menos importantes e significativas, com todas as gentes desse nosso planeta Terra.

Abraço prolongado e sempre amigo de valorização à vida.
Mario Inglesi

Nenhum comentário:

Postar um comentário