quarta-feira, 1 de maio de 2013

DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2013

OPERÁRIOS - TARSILA DO AMARAL 1933


Dr. Ricardo,
Caro amigo de partilha

Neste dia do trabalho, não há como não lembrar da abertura dos discursos do então presidente da República Getúlio Vargas: “Trabalhadores do Brasil!”, enfatizando a nova classe surgida com a Revolução Industrial implementada e, em expansão no Brasil com o incremento de indústrias fabris, então chamadas de fábricas, onde a mão de obra originária era então denominada Trabalhadores. Como tais, eram, a partir de então, remunerados com salários.
Com essa nova classe vem em seu bojo, o salário mínimo, os direitos trabalhistas, cuja consolidação data de 1943, sob os auspícios do governo Vargas, e tantas outras aspirações que vieram a se concretizar, com a implantação dos Sindicatos, cujos membros diretivos, indicados pelo próprio governo eram pejorativamente chamados de “pelegos”, por atuarem em consonância com o governo e a classe patronal.
Na roda viva do tempo, estabeleceu-se, a partir de então, o 1o de Maio, em comemoração ao Dia do Trabalho, oportunidade em que os trabalhadores aproveitavam para promover junto ao governos municipal, estadual e federal as suas reivindicações mais imediatas e prementes, em prol de melhores condições de trabalho e salário.
Mas, a roda viva não para. As condições se modificam e muitas vezes não dignificam, antes, pioram, principalmente com o advento e expansão em escala crescente do funil  do “Mercado” em que tudo é arrastado e avaliado, fazendo com que os direitos adquiridos sejam acintosamente deixados de lado e outros, advindos com a nova situação, não sejam implementados como legislação a ser exercida e cumprida.
Com isso perdeu-se as estribeiras, os parâmetros foram degringolados em favor de interesses os mais diversos, porém eminentemente escusos do lucro e da ganância sem fim. Nesse patamar, as fábricas fecharam ou se juntaram a outras para formar os grandes conglomerados de empresas, abastecidas  em grande parte não só  do lucro mas ainda do dinheiro público. Afinal, os dirigentes do governo só o são graças as grandes benesses recebidas, num jogo aberto de “toma lá, dá cá”, sem fim.
Nessa onda, o trabalhador amesquinhou-se e perdeu-se no emaranhado de interesses, substituídos por máquinas, informatização, especialistas, executivos e, em última instância, meros prestadores de serviço. Por outro lado, os dirigentes sindicais, tornaram-se afilhados dos governos, seus apoiadores ou até mesmo partícipes: como prefeitos, vereadores, deputados senadores, ou, até mesmo, presidentes de partidos ou da Pátria, quando ufanamente dizem-na “amada e idolatrada”. Por sua vez, os governos tornaram-se meras massas de manobras com fins de salvaguardar interesses próprios e imediatos de natureza eletiva, em grau desproporcional eleitoreiro e populista, num projeto apenas de poder.
Mesmo assim, ele ainda poderá gabar-se e agigantar a razão:

“De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em Construção”

Vinicius de Moraes, in “O Operário em Construção”

O Dia do Trabalho, - sem trabalhadores -, transformou-se num mero projeto de poder, agora com sua programação determinada pelas CGT e CUT que – quer queiram ou não – tornaram-no mera data de entretenimento, sem qualquer vinculação social, econômica ou política, com os trabalhadores, apenas com uma farta distribuição de prêmios, como qualquer programa de auditório ou show de megaevento, recheado de luzes, pirotecnia e muito barulho por nada.
E assim, como “La Nave Vá” singrando mares recheados de esgotos à céu aberto, saúde em pânico, mortes à granel, infância abandonada, preconceitos em ascensão, higienização humana, e democracia claudicante, etc., etc. etc.
É lógico que dirão todos, ou talvez a maioria: esse é um quadro, de uma visão passadista, pessimista, azeda, perplexa. E é, de fato tudo isso, mas não se pode dizer que não seja real: os índices e pesquisas estão aí para quaisquer confirmações.
Mas a matéria é bastante pertinente, basta lembrar que a dignificação do trabalho e do seu sujeito, o trabalhador, ou o mero prestador de serviço, não faz jus a sua inserção na pauta: “saúde é consciência”, pois o amparo pela legislação trabalhista, ainda que defasada no tempo e espaço, faz parte de um campo mais amplo e geral, constituindo a “saúde social, cujos meandros insere-se primordialmente à vida, finita, dura, trágica, mas “Vida”:

“E não há melhor resposta/
que o espetáculo da vida:/
vê-la desfiar seu fio/
que também se chama
vida,/ ver a fábrica
que ela mesma,/
teimosamente, se
fabrica, vê-la
brotar como há pouco/em nova
vida explodida.

Morte e Vida Severina – Trecho –,
de João Cabral de Melo Neto.

Feliz Dia do Trabalho a todos.
Mário Inglesi

2 comentários:

  1. Caro Sr. Mário,

    Seu emaranhado de letrinhas resume com a bondade peculiar muito do que observo hoje. Lendo sua reflexão, o quadro de Tarsila ganhou um sentido inusitado...

    Não tendo o que acrescentar, visto sua análise cirúrgica da situação, apelo aos universitários na figura de uma pós-graduanda em artes pela UNESP, que em 2012 teceu uma pérola sobre a obra de Portinari: Os trabalhadores do Café; onde pude me deleitar com considerações que fazem eco em qualidade reflexiva às suas. No caso de interessar, deixo aqui o link da preciosa dissertação:

    http://www.ia.unesp.br/Home/Pos-graduacao/Stricto-Artes/dissertacao---hebe-de-camargo-bernardo.pdf

    Um abraço com a gratidão do aprendiz

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  2. Olá Boa tarde!
    Sábias palavras e observações.
    Também não tenho o que acrescentar.
    Almejo que o ser humano consiga e queira evoluir.
    Tudo se tornaria mais suave, com a bondade e justiça divina.
    Obrigada.

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