sexta-feira, 1 de novembro de 2013

EVENTO - A BELEZA HUMANA NA MITOLOGIA


3 comentários:

  1. Da falsidade:
    Impressiona-me a face de muitos desses ativistas que encheram a mídia nas ultimas semanas. Olhar duro, sem piedade, movido pela certeza moral de que são representantes "do bem". Por viver a milhares de anos-luz de qualquer possibilidade de me achar alguém "do bem", desconfio profundamente de qualquer pessoa que se acha "do bem". Quando o país é tomado por arautos do "bem social", suspeito de que chegue a hora em que a única saída seja fugir.
    A fuga do mundo ("fuga mundi") sempre foi um tema filosófico, inclusive entre os jansenistas, conhecidos como "les solitaires" por buscarem viver longe do mundo. Eles tinham uma visão da natureza humana pautada pela suspeita da falsidade das virtudes. O nome "jansenista" vem do fato de eles se identificarem com a versão "dura" (sem a graça de Deus, o homem não sai do pecado) da teoria da graça agostiniana feita pelo teólogo Cornelius Jansenius, que viveu no século 16.
    Pascal, La Fontaine e Racine eram jansenistas. Aliás, grande parte da elite econômica e intelectual francesa da época foi jansenista. Por isso, apesar de Luís 13 e 14 (e de seus cardeais Richelieu e Mazarin) e da Igreja os perseguirem, nunca conseguiram de fato aniquilá-los.
    Hoje, por termos em grande medida escapado das armadilhas morais do cristianismo (não que eu julgue o cristianismo um poço de armadilhas, muito pelo contrário), tais como repressão do outro, puritanismo, intolerância, assumimos que escapamos da natureza humana e de sua vocação irresistível à repressão do outro, ao puritanismo e à intolerância.
    Elas apenas trocaram de lugar. A face do ativista trai sua origem no inquisidor.
    Uma das maiores obras do jansenismo é "La Fausseté des Vertus Humaines" (a falsidade das virtudes humanas), de Jacques Esprit, do século 17. Ele foi amigo pessoal do Conde de La Rochefoucauld. Alguns especialistas consideram o conde um discípulo de Esprit. A edição da Aubier, de 1996, traz um excelente prefácio do "jansenista contemporâneo" Pascal Quignard.
    O pressuposto de Esprit é que toda demonstração de virtude carrega consigo uma mentira e que as pessoas que se julgam virtuosas são na realidade falsas, justamente pela certeza de que são virtuosas.
    A certeza acerca da sua retidão moral é sempre uma mistificação de si mesmo. Os jansenistas sempre disseram que os que se julgam virtuosos são na verdade vaidosos. Suspeito que o que vi nos olhos desses ativistas nessas últimas semanas era a boa e velha vaidade.
    Mas hoje, como saiu de moda usar os pecados como ferramentas de análise do ser humano e passamos a acreditar em mitos como dialética, povo e outros quebrantos, a vaidade deixou de ser critério para analisarmos os olhos dos vaidosos. Melhor para eles, porque assim podem ser vaidosos sem que ninguém os perceba. Vivemos na época mais vaidosa da história.
    "A verdade não é primeira: ela é uma desilusão; ela é sempre uma desmistificação que supõe a mistificação que a funda e que ela (a desmistificação) desnuda", afirma Pascal Quignard no prefácio do livro de Esprit. Eis a ideia de moral no jansenismo: a verdade moral é sempre negativa, sempre ilumina a sombra que se esconde por trás daquele que se julga justo.
    Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas.
    Luiz Felipe Pondé Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv,

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    1. Caro/a anônimo/a

      A proposta da saúde é o enfoque construtivo, a cooperação e o amor; tudo isso com pureza, simplicidade e da forma mais casta possível. O texto proposto por vossa pessoa denota o caminho contrário ao trabalho proposto por este espaço. Note como o mesmo é articulado sobre palavras de cunho depreciativo e negativas, além de impessoais, visto dizerem respeito a pensamentos de autores os mais diversos, menos o seu e o do próprio autor. Enfim, uma colocação vazia de sentido em si e que não impulsiona à ação, mas ao onanismo intelectual. Nada contra esta prática, mas em seu devido espaço.

      Sugiro caso tenha em si algo de curador (ainda que ferido), e apenas assim, que reescreva o texto em linguagem amorosa ou doce, propondo soluções e não apenas atirando palavras raivosas para todos os lados, e me encaminhe, caso não esteja em processo pessoal de "fuga mundi" claro! Quem sabe possamos juntos fazer algo que seja mais produtivo, menos dionisíaco e mais apolíneo?

      Atenciosamente

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  2. Dr. Ricardo

    O anônimo que postou texto sobre “da falsidade” fez juz integralmente ao seu anonimato.
    Não postou nenhuma ideia ou crítica sobre o que quer que fosse, como também não escreve nada
    pessoal que nos fizesse refletir ou contrariar, uma vez que o texto postado foi pinçado de parte da
    coluna de Luiz Felipe Pondé, da edição de 28.10.2013, do jornal a Folha de São Paulo.
    Além disso, seu teor foi retirado do seu contexto, original e posto aleatoriamente no blog “Saúde É
    Consciência”.

    Como tal, pareceu fazer-se de soberbo e culto, mas o feitiço virou contra o feiticeiro, e mostrou apenas que a “falsidade” era única e totalmente sua, em impingir algo de outrem e fora de contexto exigível. Mas, não se preocupe caro sr. anônimo, a resposta veio-lhe logo em seguida, e como uma clave a soar uma boa reflexão.

    Mário Inglesi

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