segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CIÊNCIA GOETHEANA I



Aplicando a Ciência Goetheana em Busca de Equilíbrio - (APPLYING GOETHEAN SCIENCE IN A SEARCH FOR BALANCE) - Plymouth University - Schumacher College - MSc in Holistic Science Sep. 2010 – Aug. 2011 - Supervisor: Alan Dyer
Fragmento de Tese - Capítulo I:
Por: Clara Oliva Antoniazzi - clara.antoniazzi@gmail.com / http://sejamosseres.blogspot.com.br





Um Paradigma Social

Este capítulo introduzirá a ideia de Fritjof Capra de um paradigma social no qual a sociedade ocidental está imersa, e dará uma explicação sucinta de sua origem. Além disso, apresentará a proposta de um desequilíbrio social causado pelo paradigma em questão, desequilíbrio esse que pode nos levar para uma crise mundial ou até mesmo nos induzir para um colapso global. No final desta seção uma maneira de mudar esse paradigma é sugerida e será desenvolvida no desenrolar dos próximos capítulos.

Sou uma amante da Natureza e sempre foi muito doloroso para mim perceber o quanto o ser humano é agressivo e rude, destruindo-a como se não fizéssemos parte dela, como se ela não estivesse viva, como se a Natureza não fosse sagrada. Essa atitude para com a Natureza, a qual eu acredito ser trazida por um desequilíbrio na consciência humana, é baseada no que Fritjof Capra descreve em seu livro “The Web of Life” (A Teia da Vida) como algo que nos leva para um momento da história onde enfrentamos muitos problemas.

       Segundo Capra, a sociedade ocidental é fundamentada em um paradigma social que tem influenciado o mundo todo. Algumas ideias que constituem esse paradigma são: ‘o entendimento do universo como um sistema mecânico composto por blocos; o entendimento do corpo como uma máquina; o entendimento de vida em sociedade como uma competitiva batalha pela existência; a crença em um progresso material ilimitado a ser alcançado por meio do crescimento econômico e tecnológico; e – a última, mas não a menos importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é sempre colocada abaixo do homem é uma crença que segue as leis básicas da natureza’ (Capra, 1997: 6).

Explorando bem essas cinco ideias de Capra, é possível alcançar um entendimento profundo desse paradigma social proposto por ele e o qual ele define ‘como uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas de uma certa comunidade, que formam uma visão particular da realidade, a qual será a base para a maneira como essa comunidade irá se organizar’ (Capra, 1997: 5/6).

O primeiro ponto - a visão mecanicista do universo – foi trazido pela Revolução Científica, a qual é ‘associada aos nomes Copérnico, Galileo, Descartes, Bacon e Newton’ (Capra, 1997: 19), e foi profundamente incorporado na sociedade ocidental. No dicionário online Free Dictionary uma máquina em termos da engenharia é definida como ‘um conjunto de componentes interconectados organizados para transmitir e modificar energia de maneira a desempenhar um trabalho útil’. Nesses termos, quando alguém vê o planeta como uma máquina esse alguém se sente no domínio podendo controlar o mundo da maneira que achar conveniente. Esse sentimento de poder sobre o planeta traz a sensação de posse, o que transforma o mundo em um mero produto para ser usado e consumido pelos seres humanos. Nós precisamos sim consumir o planeta para sobreviver. Precisamos de comida, água, abrigo, mas o excesso de consumo por luxo pode se transformar em um grande problema. Satish Kumar, em seu livro “Earth Pilgrim” (Peregrino da Terra), propõe belas metáforas para duas maneiras pelas quais podemos nos relacionar com o planeta. Ele diz que ‘podemos agir como turistas e olhar para Terra como uma fonte de bens de consumo e serviços para o nosso uso, prazer e diversão; ou podemos agir como peregrinos da Terra e tratar o planeta com reverência e gratidão’ (Kumar, 2009:12) reconhecendo a generosidade desse planeta maravilhoso do qual fazemos parte. O primeiro caminho, ser turista na Terra, quando aplicado à situação atual do mundo, se torna um grande problema: somos muitas pessoas usando muito das fontes do planeta, as quais não são infinitas mesmo! Estamos consumindo o mundo de uma maneira insustentável. Em outras palavras, estamos usando as fontes do planeta de tal maneira que a chance de as futuras gerações usá-las está diminuindo ou até mesmo se extinguindo.

O segundo ponto – o entendimento do corpo como uma máquina – também foi trazido pela Revolução Científica, mais especificamente pela divisão cartesiana de mente e matéria, entre outros aspectos da história da civilização humana que afetaram profundamente a maneira como lidamos com nossos corpos hoje como, por exemplo, a influência do Cristianismo e Catolicismo na sociedade ocidental durante os passados 2000 anos, mas não entrarei em detalhes sobre isso nessa pesquisa. As consequências trazidas pelo entendimento do corpo como uma máquina são similares com as descritas no paragrafo acima. Seres humanos começaram a entender seus corpos como uma máquina controlada pelo cérebro, o qual se transformou o símbolo para a mente racional. Pensando assim, o cérebro é considerado o órgão mais importante e é colocado no topo da hierarquia das partes do corpo. Esse foco na mente racional nos levou a uma sociedade que acredita que a única forma de conhecimento, a única maneira de provar a verdade é através da razão deixando sentido, sensação e intuição abaixo na hierarquia das formas de conhecimento.

O terceiro ponto - o entendimento de vida em sociedade como uma competitiva batalha pela existência – está inserido em todas as camadas da cultura ocidental, das relações pessoais, passando pelas relações sociais, até as relações internacionais globais. Martim Nowak, em seu livro “Super Cooperators” (Super Cooperadores), menciona o insight de Charles Darwin sobre a competição estar no coração da evolução como parte essencial para a batalha pela existência, onde organismos são obrigados a competir entre si para conseguirem se alimentar e se reproduzir. Essa atitude pode ser percebida em toda natureza viva, desde seres unicelulares até grandes mamíferos. Na sociedade humana essa batalha não só é vista entre pessoas, mas também entre corpos corporativos. ‘A batalha pela existência continua apressadamente, de competições entre supermercados para abaixar preços até rivalidades assassinas entre empresas de Wall Street’ (Nowak, 2011: xii). Nowak divide a batalha pelo sucesso, a qual chamarei de competição, em duas: a competição honesta, onde o melhor é dado para se alcançar um objetivo; e a competição negra, onde o interesse pessoal é o condutor, onde não se pode ajudar um competidor e onde se acaba trapaceando e tornando a vida do rival mais difícil. Eu acredito que nossa sociedade está fundamentada na segunda forma de competição, o que está nos conduzindo para um grande perigo de entrarmos em colapso. Por outro lado existe cooperação, um outro tipo de batalha pela existência encontrado em ‘criaturas de [grande] persuasão e níveis complexidade’ (Nowak, 2011: xiii). Fungos, por exemplo, vivem em uma relação de cooperação com a floresta. ‘A partir de plantas mortas os fungos transformam carbono, hidrogênio, nitrogênio, fósforo e minerais em nutrientes para plantas vivas, insetos e outros organismos que dividem aquele habitat’ (Stamets, 2005: 19). Portanto, não só competição é importante para a sobrevivência, mas também a cooperação. Martim Nowak intitula os seres humanos como os ‘supremos cooperadores’ e afirma que nossa grande habilidade de ‘cooperar é uma das principais

razões que nos permite sobreviver em todos os ecossistemas da Terra’ (Nowak, 2011:xiv). A sociedade ocidental está embebida em competição e está deixando de lado a cooperação. O altruísmo está sendo eclipsado pelo egoísmo, mas ‘a interação entre indivíduos altruístas e egoístas é vital para a cooperação humana’ (Fehr & Fishbacker, 2003), o que Nowak acredita ser a única solução para que a humanidade não se extinga, considerando os grandes problemas globais que estamos encarando como por exemplo mudança climática, superpopulação e esgotamento de recursos.

O quarto ponto - a crença em um progresso material ilimitado a ser alcançado por meio do crescimento econômico e tecnológico – foi introduzido com o evento da Revolução Industrial, o qual causou um grande efeito na economia e cultura influenciando quase todos os aspectos do cotidiano, primeiro na Europa e depois se espalhando para as outras partes do mundo. Máquinas substituíram o trabalho manual aceleraram a produção e trazendo a possibilidade de se produzir mais de uma só vez com um custo baixo por unidade: produção em massa. Portanto, países industrializados tinham mais produtos para vender, mais dinheiro circulando e consequentemente a economia crescia. É por isso que países industrializados são considerados mais desenvolvidos do que países de economia agropecuária, que por sua vez fazem de tudo para se tornar industrializados para serem considerados desenvolvidos. Em países industrializados e de economia agropecuária, pessoas com mais dinheiros tem a possibilidades de comprar mais coisas e por isso são consideradas mais ricas que as outras. ‘Quanto mais se tem melhor se é’ esse é o mantra. Existe uma hierarquia criada entre a sociedade global onde aqueles que têm maior conhecimento tecnológico, mais dinheiro, mais coisas são colocados numa posição acima dos outros. Essa ideia de ‘quanto mais se tem melhor se é’ nos levou para um vício em consumir: o consumismo. Por vício em consumir quero dizer consumo de vários tipos desde coisas materiais como recursos naturais, comida, produtos industrializados, até coisas imateriais como ideias, conhecimento, arte. Esse vício está causando problemas para indivíduos e para o planeta, por exemplo: lixo não-biodegradável espalhado por todo planeta, esgotamento de recursos naturais, doenças físicas e psicológicas como a obesidade.

O quinto ponto - a crença de que uma sociedade na qual a mulher é sempre colocada abaixo do homem é uma crença que segue as leis básicas da natureza – levou o ser humano para uma sociedade patriarcal onde a energia feminina foi negada e a energia masculina colocada em um pedestal. Por energia feminina quero dizer não o gênero, mas sim o lado do ser humano mais intuitivo, artístico, passivo, holístico, simbólico, e por energia masculina quero dizer o lado mais lógico, analítico, ativo, linear do ser humano. No livro “A Doença Como Caminho”, Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlken explicam que o cérebro humano tem dois lados, dois hemisférios: o hemisfério esquerdo é o que traduz o mundo de um modo lógico, analítico, racional, e pode ser associado ao masculino ou Yang no Taoísmo, uma filosofia oriental; o hemisfério direito é o que percebe o mundo na sua totalidade, com todo a sua inter-relação e complexidade, e pode ser associado ao feminino ou ao Yin taoísta. Eles afirmam que a abordagem tradicional da ciência é imperfeita uma vez que está considerando apenas o lado esquerdo do cérebro (Dethlefsen e Dahlken, 2007: 29). Em outras palavras, a ciência tradicional foca na mente racional excluindo a abordagem holística, ela valoriza o masculino sobre o feminino. Thomas Berry escreve em seu artigo “Patriarchy: A New Interpretation of History” (Patriarcado: Uma Nova Interpretação da História) que se olharmos para o processo histórico ocidental, podemos encontrar quatro organizações patriarcais que estiveram no controle por séculos na história ocidental. Essas quatro organizações são: os impérios clássicos, a organização eclesiástica, as nações-estado, e as corporações modernas’ (Berry, 1988: 145/146). Berry afirma que ‘essas quatro organizações são exclusivamente dominadas por homens’ e ‘progressivamente se tornaram virulentas em seu poder destrutivo’, o que tem causado a devastação de todo sistema básico de vida da Terra (Berry, 1988: 145/146). Berry propõe uma divisão na história da civilização ocidental em três momentos principais: o matricêntrico, onde os aspectos femininos do ser humano são valorizados; o patricêntrico, onde os aspectos masculinos do ser humano são valorizados; e o omnicêntrico, onde os aspectos ecológicos do ser humano são valorizados. Ele afirma que existe uma urgência para alcançar o estado omnicêntrico.

Uma ilustração desse período é um movimento chamado “ecofeminismo” que ‘vê a dominação patriarcal das mulheres pelos homens como um protótipo de todas as dominações e exploração nas várias formas hierárquica, militarista, capitalista e industrialista’ apontando ‘que a exploração da natureza, em particular, andou de mãos dadas com a das mulheres, que foram identificadas com a natureza por eras’ (Capra, 1997: 9).

Essas ideias de Capra me fizeram acreditar ainda mais que nossa atitude destrutiva para com a Natureza tem a ver com o quanto nossa sociedade é desequilibrada hoje em dia, com como estamos nos baseando em conceitos que não se encaixam mais em nossa época. Estamos realmente doentes!

Olhando mais uma vez para os cinco pontos descritos acima é possível perceber que todos eles trazem uma noção de desequilíbrio. O entendimento mecanicista do universo, por exemplo, considera que tudo é composto por partes que quando somadas formam um todo. ‘Essa maneira de ver o mundo coloca o todo num lugar secundário às partes, porque ela considera que o todo vem depois das partes. Ela sugere uma sequência linear: primeiro as partes, depois o todo’ (Bortoft, 1996: 9).

Mas o todo e as partes se relacionam de modo não linear. As partes não vêm antes do todo ou o todo antes das partes. Eles existem simultaneamente, profundamente conectados, juntos num uno. Bortoft diz: ‘[se] separarmos parte e todo em dois, sugerimos uma alternativa de mover-nos em uma única direção, ou da parte para o todo ou do todo para a parte. Se partirmos dessa posição, devemos ao menos insistir em mover-nos para ambas as direções de uma só vez, de modo que não tenhamos nem o todo resultante como soma e nem o todo transcendental como autoridade dominante, mas sim o todo emergente que aparece dentro de suas partes’ (Bortoft, 1996: 11).

Portanto, o entendimento mecanicista do mundo traz um desequilíbrio entre partes e todo reduzindo o objeto em questão em partes que podem ser observadas separadamente desconsiderando a interconectividade do todo, e, além disso, dá maior importância para as partes ou para o todo ao invés de levar a atenção para as conexões. Em outras palavras, essa abordagem vê o mundo como blocos que podem ser estudados separadamente sem a necessidade de compreender a influência exercida entre eles. Uma abordagem holística do mundo traria um entendimento muito mais vasto sobre o objeto em questão, analisando-o através de diferentes formas de conhecimento e percebendo-o como partes dentro de um todo e um todo dentro de partes simultaneamente, trazendo assim de volta o equilíbrio perdido.

Entender o corpo como uma máquina levou a sociedade ocidental a focar na mente racional, como dito acima. Além disso, no campo da medicina médicos acreditam que quando uma parte/órgão está quebrado/doente ela/ele precisa ser consertada/curado mas na realidade nosso corpo é um todo no qual as partes estão intimamente conectadas. Por exemplo, gastrite pode ser um sintoma e não a doença em si que pode ser estresse. Nesse caso combater a gastrite não vai curar a doença real e isso é exatamente o que a sociedade ocidental está fazendo: combatendo os sintomas e deixando a doença sem cura. O que quero dizer aqui é que o corpo não está sendo visto como um todo que deve ser compreendido em sua totalidade, mas sim como partes que podem ser observadas separadamente como se pudessem atuar sozinhas.

Além disso, o cérebro é supervalorizado em relação às outras partes do corpo o que acaba trazendo uma maior importância para a racionalidade, a qual é considerada a única forma de conhecimento na nossa sociedade ocidental. Em seu livro “Mito e Transformação”, Joseph Campbell explica as quatro funções da psique humana apresentadas por C. G. Jung, que as dividiu em dois pares. O primeiro par é razão e emoção, e está relacionado à maneira como se analisa o mundo. O segundo par é sensação e intuição, e está relacionado à maneira como se experiencia o mundo. Para

Jung cada pessoa tem uma dessas funções psicológicas mais desenvolvida que as outras, por isso existe a necessidade de trabalhar as funções menos desenvolvidas para que se tenha uma psique saudável. Portanto, quando focamos em uma única forma de conhecimento – ou função psicológica – geramos um desequilíbrio nas quatro formas de conhecimento: razão, emoção, sensação e intuição.

Quando a competição é considerada o único meio de sobrevivência tudo que se utiliza de cooperação para sobreviver é ignorado como se não existisse. Mas na realidade competição e cooperação são ambas essenciais para a existência como explicado acima. Então, se a sociedade está rejeitando a cooperação ela está abandonando parte de sua habilidade natural para sobreviver, o que diminui sua resiliência. Consequentemente, o desequilíbrio entre competição e cooperação pode nos levar para uma crise de sobrevivência.

O desequilíbrio que eu vejo no quarto ponto apresentado por Capra está relacionado com ação no tempo, com movimento. Existe um desequilíbrio entre tempo e custo de produção de bens de consumo, e tempo e custo do consumo em si desses produtos. A industrialização acelerou a produção, o que acelerou o consumo, o que acelerou a vontade individual, o que por sua vez causou o consumismo. A sociedade está muito apressada! Existe uma necessidade de desacelerar, de recuperar o nosso ritmo natural.

Quando é dito que vivemos em uma sociedade patriarcal o desequilíbrio fica bastante claro: a sociedade se organiza baseada na ideia de que o homem é considerado a figura de autoridade primordial rejeitando todo e qualquer aspecto relacionado com mulheres. Em outras palavras, a sociedade é baseada no arquétipo masculino e afasta o feminino. Pactuando com o que Jean Shinoda Bolen diz em seu livro “Os Deuses e o Homem”, parece que a sociedade patriarcal não está afetando apenas a vida das mulheres, mas também a dos homens já que o número de homens infelizes está aumentando. Eu acredito que todo indivíduo tem ambos os arquétipos influenciando seu modo de viver. Por isso, o desequilíbrio entre os arquétipos feminino e masculino está afetando a vida de homens e mulheres de uma forma nociva devido a essa valorização do modelo masculino.

O que eu acabei de apresentar pode trazer a questão do dualismo a tona já que falo sobre o desequilíbrio entre dois polos; pode despertar a ideia de que o mundo é dual. No livro “A Doença Como Caminho”, Throwald e Rüdiger apresentam a hipótese de que essa maneira de perceber o mundo como sendo dual, essa polaridade da consciência humana é devida à anatomia do nosso cérebro, o qual é composto por dois hemisférios cujas funções são diferentes, como explicado anteriormente. Fritjof Capra, por sua vez, afirma que esta abordagem dualista origina-se da divisão cartesiana entre matéria e mente formulada através da filosofia de René Descartes no século XVII, a qual ele acredita ter tido grande influência sobre o paradigma social ocidental discutido acima (Capra, 2011). O que eu quero esclarecer é que essa abordagem não implica que o mundo é dual ele próprio e que iremos perceber o mundo como dual necessariamente. Eu acredito que é possível entender o mundo como uma unidade, como uno, como um todo e é exatamente esse o grande desafio a nossa sociedade ocidental, onde tudo é visto separadamente como partes que quando agrupadas formam algo útil.

Em seu livro “O Tao da Física”, Fritjof Capra explica que a divisão cartesiana e a abordagem mecanicista do mundo ajudaram com sucesso o desenvolvimento da tecnologia e da física clássica, mas por outro lado vêm apresentando consequências desfavoráveis para nossa civilização como, por exemplo, o paradigma social exposto acima. O que ele considera fascinante é ver que a física moderna, a qual se originou da divisão cartesiana e da abordagem mecanicista, superou essa fragmentação e está nos trazendo de volta para a ideia de unidade expressada na Grécia antiga e em filosofias orientais como Hinduísmo, Budismo e Taoísmo. Mas a sociedade ainda está presa no paradigma social apresentado por Capra, o qual mostra alguns aspectos importantes da humanidade moderna e a fragmentação da sociedade ocidental, além de estar nos conduzindo para uma crise e, eventualmente, para um colapso global.

Minha vontade de uma consciência de totalidade tem crescido a cada dia e sinto a urgência de unificar as polaridades da consciência no mundo ocidental e em lugares onde a sociedade ocidental exerce forte influência de modo que, se essa abordagem de totalidade existia, hoje está desaparecendo. Desse desejo a ideia de iniciar uma comunidade ecológica surgiu dentro de mim, um lugar onde as pessoas possam viver em paz com a Natureza, com eles mesmos, um lugar onde a totalidade pode ser alcançada no dia-a-dia. Essa ideia será explorada em maiores detalhes mais adiante neste texto.

Johan Wolfgang von Goethe, o famoso escritor romântico, era também um cientista e vejo seu jeito de fazer ciência como um método holístico, o qual pode ajudar pessoas a ampliar seu jeito de entender o mundo. Em outras palavras, o método holístico de Goethe pode ser um grande instrumento para trazer de volta o equilíbrio à consciência humana. Por holístico quero dizer algo que englobe as quatro formas de conhecimento propostas pela mandala de Jung: razão, emoção, sensação e intuição. A ciência de Goethe está vindo à tona e sendo mais reconhecida e usada depois de aproximadamente três séculos. Acredito que isso é devido às novas descobertas da física moderna, apontadas por Capra em “O Tao da Física”, que mudaram radicalmente a maneira de se entender a ciência, da abordagem reducionista mecanicista para uma abordagem ampliada e complexa, onde as conexões e relações entre os fenômenos são extremamente importantes e não podem ser ignoradas, trazendo a ideia de unidade ao invés de blocos separados e isolados um do outro. O próximo capítulo dará ao leitor melhor entendimento da Ciência de Goethe.

Referências bibliográficas:

Berry, T. (1988) ‘Patriarchy: A New Interpretation of History’ page 138 – 162 in ‘The Dream of the Earth’. San Francisco, Sierra Club Books.

Bolen, J. (2010) terceira edição. Os Deuses e o Homem: uma nove psicologia da vida e dos amores masculinos. São Paulo, Paulus.

Bortoft, H. (1996) The Wholeness Of Nature: Goethe’s Way Of Science. Edinburgh, Floris Books.

Campbell, J. (2008) Mito e Transformação. São Paulo, Ágora. Capra, F. (1997) The Web of Life: a new synthesis of mind and matter. London, Flamingo.

Capra, F. (2011) O Tao da Física: uma análise dos paralelos entre Física Moderna e o Misticismo Oriental. São Paulo, Cultrix.

Dethlefsen, T. & Dahlke, R. (2007) A Doença Como Caminho. São Paulo, editora Cultrix.

Kumar, S. (2009) Earth Pilgrim. Totnes, Green Books.

Nowak, M. (2011) Super Cooperators: altruism, evolution, and why we need each other to succeed. New York, Free Press.

Stamets, P. (2005) Mycelium Running: how mushrooms can help save the world. USA, Ten Speed Press.

Fehr, E. & Fishbacher, U. (2003) ‘The nature of human altruism’, in Nature 425, 785-791. Available: http://www.nature.com/nature/journal/v425/n6960/abs/nature02043.html#top [06/07/2011]

The Free Dictionary [08/07/2011] Available: http://www.thefreedictionary.com/machine



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