terça-feira, 1 de abril de 2014

AINDA ANO NOVO


Mario Inglesi sobre: Ano novo - Tudo "novo"


 Dr. Ricardo



A beleza de seu texto e o florir das ideias nele expostas, são sempre bem-vindos, pois – ainda que momentaneamente – nos dá um bem-estar, tal como um belo sonho sonhado, seguido de um repentino despertar.

O despertar, entretanto nos trás à realidade e esta nos infunde reflexões nem sempre condizentes com o esperado pelo sonhador.

É assim que: Descobrir um Novo Ano Novo é pauleira. É lenha na fogueira

Imagine, mais um feriadão, mais uma grande promoção de vendas: ofertas mil para encher sacolas e mais sacolas, com bebidas, comidas, envoltas para viagens, trânsito caótico e prolongado, juntamente com muitas preces e acender de velas, para que o tempo permaneça ensolarado. Porém – que pena!- já sem o 13o salario. Não é mole. Que venha o 14o, para aguentar o endividamento, as culpas, as tensões e os desgastes próprios da situação.

Nessa, o Dalai Lama tem razão em seu fraseado sobre dinheiro, saúde, presente e futuro. Mas é preciso convir que ele está em outra. Dizem-no iluminado, sem muita luz elétrica a encobri-lo, mas envolto no seu otimismo de essência.  Apenas orações, fé e meditação numa vida sem conturbações, longe do mundo e de seus problemas. Enfim uma vida de posicionamento “Zen”: Um Olimpo terrestre, aonde os olhos estão voltados mais para crear (tal como se reza na oração: “Deus creou o céu e a terra”) do que para criar, pois estão mais abertos a “crer” – talvez o melhor registro aproximado de crear do que a “criar”, que é termo reservado aos humanos, em sua acepção mais nobre, abrangente e duradoura.

No ano novo ora descoberto parece ter lugar privilegiado o “Pequeno Príncipe” – sempre a imorredoura saudade da realeza – a nos dizer e acalentar com expressões e ditos bastante pertinentes, mas só atinentes a seu belo e imorredouro contexto ficcional. Quando, por exemplo, revela seu segredo: “Só se vê bem como o coração”. Evidentemente, desconhecia, que o coração tem um pulsar que não combina com a razão, pois está sujeito a sentimentos, na maioria das vezes enganosos e fugazes.

Finalmente, voltar-se em 2014 para pensar que aqui estamos “somente de passagem”, parece insatisfatório, pois tal pensamento é corriqueiro, senão supérfluo, pois não há quem não o tenha, ainda que, ligeiramente em algum momento de reflexão.

O que é preciso pensar, com empenho e eficácia, é no que fazemos e podemos fazer, ou faremos, nessa “passagem” em prol da nossa vida e de todos que nos cercam nesse planeta “Terra”, na solidão e desamparo que nos encontramos.

 Mário Inglesi


2 comentários:

  1. Querido Sr. Mário!

    Neste breve intervalo de luz em que a alegre sorrateira não agenda visita, simplesmente aparece, passamos uma terça parte nos campos de Orfeu, senão mais, entre sonos e sonhos conforme o poeta:

    Entre o sono e o sonho,
    Entre mim e o que em mim
    É o quem eu me suponho
    Corre um rio sem fim.

    Passou por outras margens,
    Diversas mais além,
    Naquelas várias viagens
    Que todo o rio tem.

    Chegou onde hoje habito
    A casa que hoje sou.
    Passa, se eu me medito;
    Se desperto, passou.

    E quem me sinto e morre
    No que me liga a mim
    Dorme onde o rio corre –
    Esse rio sem fim.

    Que a simplicidade da fogueira aqueça o coração e ensine a sermos mais fogo e menos cinzas ou um pouco mais Dalai e um pouco menos Dá cá...

    Os sentimentos cardíacos, contraparte dos mentais, são quentes e luminosos, apesar de passageiros. Os últimos são rigorosos como as prestações, nostálgicos do nada, criação humana mais inusitada, talvez mesmo perversa, na lida com as questões do mundo, da finitude e da solidão.

    Que venha 2014 e bem Zen para o bondoso amigo e família!

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  2. Vou deixar o do Quintana também, por parecença, para a essência...

    OS DEGRAUS

    Não desças os degraus do sonho
    Para não despertar os monstros.
    Não subas aos sótãos - onde
    Os deuses, por trás de suas máscaras,
    Ocultam o próprio enigma.
    Não desças, não subas, fica.
    O mistério está é na tua vida!
    E é um sonho louco este nosso mundo...

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