segunda-feira, 2 de junho de 2014

MAIS SOBRE LIBERDADE E SAÚDE

Por Ana Cristina Guimarães - Mãe e Médica da Saúde


O Homem ocidental, que vive em uma sociedade democrática da atualidade, orgulha-se de morar em um “país livre”, e tem certeza absoluta de sua liberdade.
Porém, na medida em que vai ampliando sua percepção da verdadeira realidade, ele começa a perceber que talvez não seja tão livre como pensava. Apenas citando algumas fontes que revi recentemente: livros - “1984” de George Orwell, “Vidas para consumo” de Z. Bauman, o filme “Matrix” e o documentário “Century of Self ou O Século do Eu” - disponível no link:


     Então fazemos uma descoberta bem desagradável para nosso orgulho! Na verdade, não somos tão livres assim como pensamos ou gostaríamos. Reconhecer isto é o primeiro passo para quem deseja tornar-se livre. E assim como um prisioneiro numa cela escura, começamos a tatear lentamente em volta, procurando reconhecer as paredes de nossa prisão.



A PRISÃO DA LÓGICA
Na modernidade, estamos acostumados desde criança a dar valor a lógica e intelectualidade. Há poucos dias, saiu em revista conceituada uma matéria divulgando escolas que incluíam aulas de empreendedorismo e finanças para crianças de três anos.
Ao buscarmos na Internet - Empreendedorismo infantil - nos deparamos com vários cursos e escolas divulgando esta ideia! Por exemplo:

Desde cedo, crianças que deveriam ter apenas contato com contos de fada e fantasias estão sendo ensinadas de que serão seres humanos se obtiverem sucesso profissional e as finanças em ordem. Toda esta ideia é apresentada de uma maneira lógica e racional, parecendo fazer sentido para pais incautos. Estaremos criando uma geração de TERES HUMANOS ao invés de SERES HUMANOS?
A Ciência atual é também baseada na lógica e na experiência que pode ser reproduzida. Na Medicina atual, por exemplo, existem protocolos de tratamentos para determinadas doenças e devemos “seguir o protocolo” ao receitar diversos medicamentos.

ENTRETANTO:
Citando C.K Chesterton no seu livro “Ortodoxia”:
 ”No momento que sua razão se move, move-se dentro da velha rotina circular, e andará sempre a volta do seu círculo lógico”.
O pensamento lógico é comparado analogicamente a Lua. Novamente Chesterton:
 “O intelectualismo isolado é (no sentido exato de uma frase popular) todo luar, porque é luz sem calor, ou seja, uma luz secundária e refletida de um mundo morto... O círculo da Lua é tão claro e inconfundível, tão periódico e inevitável, como o círculo de Euclides no quadro preto...”.
Como a Lua reflete a luz do Sol, do mesmo modo a inteligência humana reflete a luz criadora da Consciência. A inteligência reflexiva trabalha retroativamente com o já conhecido, buscando “causa-efeito”. Alguns autores dizem que este tipo de inteligência trabalha “em círculos”.
Desenvolver este tipo de raciocínio é importante, entretanto se nos limitarmos a ele estaremos presos, apenas repetindo conhecimentos antigos.
A Eternidade é representada por uma serpente comendo a própria cauda. As filosofias que falam sobre o “Karma” ou ”Destino” se utilizam do mesmo símbolo para denominar a “Roda” da vida em que os Homens se encontram prisioneiros.
  

A Lua reflete a luz-pensamento reflexivo-lógico.

Sócrates, um dos maiores filósofos da Grécia, dizia: “Eu sei que nada sei.” Devido a isso, foi considerado pela pitonisa do Oráculo de Delfos, como o maior sábio da época. Era o único disposto a aprender e a investigar, pois tinha a humildade de saber-se ignorante. Os que já sabem tudo, nada têm a aprender. Estão “presos” dentro de sua própria racionalidade e intelectualidade “superior”...
Diversos autores, através dos tempos têm insistido na importância de desenvolver um pensamento analógico, criativo e intuitivo, para poder escapar da “prisão”. Dentre estes autores, separados por quase 1000 anos, dois gigantes do pensamento: Avicena, médico-filósofo árabe medieval (980-1037) e Rudolf Steiner, filósofo alemão, (1861-1925), criador da pedagogia Waldorf e da Medicina Antroposófica. Ambos afirmam que é fundamental desenvolver a lógica e a intelectualidade racional, porém elas devem ser consideradas como um degrau para o desenvolvimento de uma “imaginação criativa” e da “imaginação intuitiva”, o que nos libera da prisão circular da intelectualidade racional. A inteligência intuitiva, não racional, analogicamente é comparada ao Sol-Luz-Calor-Sabedoria-Coração. É um conhecimento imediato, não mediado pelo intelecto.


O Sol irradia a luz-pensamento criativo, imaginativo-analógico.

Na mitologia grega, Apolo é o Deus identificado ao Sol-Verdade-Sabedoria e símbolo da inspiração profética e artística. Associado também a música e a cura. Esculápio, considerado deus da Medicina, era filho de Apolo. Muitos médicos da Antiguidade e Idade Média aprendiam música, e no “Banquete” de Platão o médico é comparado a um maestro, que deve harmonizar as sinfonias do corpo humano.
A inteligência intuitiva cria conhecimento novo, assim como o Sol origina a luz. Quando desenvolvemos a imaginação criativa, conseguimos nos libertar da “Matrix”.
Os povos antigos sabiam disto. Por isso, estudavam a lógica e a analogia, desenvolvendo dois tipos de pensamento que se interconectavam: Astronomia - Astrologia, Química - Alquimia, Medicina - Filosofia, Matemática - Geometria Sagrada. Não porque eram ignorantes, desconhecedores da Natureza e da Ciência, como alguns autores dizem atualmente, menosprezando-os. Mas sim, por que eram capazes de um pensamento analógico, simbólico, criativo.
Mas atualmente, estamos sempre muito ocupados para aprender. Tantas distrações – Face book, Big Brother, novelas, academia, roupas de luxo, excesso de trabalho... O Homem atual encontra-se completamente alienado, e assim vai gradualmente, cada vez mais se tornando um escravo. Incapaz de perceber até os mais simples fatos que contribuem para isso: financiamentos bancários extorsivos que o obrigam a trabalhar exaustivamente para manter seus artigos de luxo, o estímulo ao consumo, notícias “falsas” do Jornal da TV, o roubo de seus impostos...

E nos achamos muito espertos e inteligentes por que temos tecnologia! Talvez as crianças que hoje aprendem finanças e empreendedorismo, no futuro façam cálculos de que custa caro ter filhos ou ajudar a nós, os pais, se eventualmente precisarmos. Parar para admirar o por do sol, ler um romance ou uma poesia, ir a um museu, aprender música, jantar com os amigos... Será que tudo isso será matematicamente calculado nas suas planilhas financeiras e de disposição de tempo?

Um comentário:

  1. Ricardo garimpeiro, sempre achando tesouros na Internet e nos presenteando com as suas reflexoes. Nietzsche era so mais um macaco com dor de cotovelo por causa da Lou Andreas Salomé, outra macaca. Excelente leitura nesse dia de pentecostes. Shirley

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