terça-feira, 15 de agosto de 2017

SOBRE O TEMPO – UM SONHO




        Outro dia, em sonho, muito tempo atrás, quase ontem, perguntaram se o tempo existe de fato e do que ele se trata. Andei, falei e pensei:
        Sim o tempo existe, e o eterno insiste, duas direções espaciais que quando se fala em tempo se mostram necessárias. Sim, pois a existência do tempo exige o conceito de mudança e de movimento, sem o que o conceito não se manifesta. Se estiver difícil, me interrompa, por favor, e pergunte ok?


        Existir é vir para fora (prefixo ex), é acontecer, é manifestar, é temporalizar. E tudo que é temporalizado ganha duração e, portanto finitude. Se não a finitude no sentido anterógrado, ao menos a do sentido retrógrado, pois que pode ser infinita para frente, mas não o é para trás, visto teve princípio e, portanto não é eterna. Digo que a eternidade é a infinitude do passado e o tempo (temporalidade) é a infinitude do futuro. Por isso sempre ter existido (eterno) é tão diferente de poder existir para sempre (infinito).
        O tempo nasce de um sacrifício. Para se “ter” tempo é importante algum grau de sacrifício. De outro modo, aqueles cujas vidas não “têm” sacrifício, não têm tempo. O tempo os têm, são possuídos pelo tempo, escravos do tempo, vítimas do tempo. Nas palavras de Rohden, podemos ser livres daquilo que possuímos, mas podemos ser escravos, mesmo daquilo que não possuímos. Não há mal nenhum em possuir, todo mal está em ser possuído. Sacrifício é ofício sagrado e verticaliza o humano, sofrimento é escolha animal, horizontaliza o humano e esvazia o sentido de vida. Sacrifício é vital e ativo, já sofrimento é mortal e passivo.
        Mas, o tempo é essa coisa que passa e quanto mais apego mais ele se materializa e entra em nossas entranhas. Faz tudo parecer real, na medida em que vivenciamos um antes e um depois. Decorrências de sua “passagem”.
        Quando se olha um rio do alto, ele aparenta inteiro e imóvel. Quando entramos nesse mesmo rio, ele parece passar ou ir em alguma direção. Quanto mais denso o estado da matéria, mais o tempo se faz sentir.
        Antigamente o tempo era visto como divindade, CHRONOS (Grécia), depois também Saturno (Roma). Nessa época era bem sabido o porquê dessa divindade devorar seus filhos. Hoje o tempo nos devora, mas perdemos aquela qualidade de percepção e a trocamos pela noção de que simplesmente o tempo passa e com ele nós passamos...
        Certamente passamos, mas o tempo será que passa mesmo? Ou se assemelha ao rio que visto do alto é parado e só quando nele se entra é possível perceber o fluxo?
        O tempo também tinha outra representação divina no passado, relacionada à sua qualidade, a seu como. Essa representação era conhecida por KAIRÓS. A qualidade do tempo determina uma instância de natureza etérea em relação à quantidade de tempo, e de fato, a envolve com essa atmosfera. Por isso alguns tempos são mais curtos e outros mais demorados, apesar de serem os mesmos quando medidos em ponteiros. O escritor e físico Alan Lightman escreve sobre isso com propriedade na obra “Sonhos de Einstein”.


        Até hoje, por mais que pesquisemos, não sabemos se o tempo é contínuo ou granuloso (discreto), mas um cientista chamado Planck definiu o que se pode arriscar como a menor quantidade de tempo, a partir da qual podemos falar em tempo; é o TEMPO DE PLANCK. Mas isso tudo só vale enquanto a velocidade da luz, a constante gravitacional e a constante de Planck forem consideradas constantes; se alguém descobrir que não são tão constantes assim, tudo isso deve se transformar em algo bem diferente...
        Se o tempo for granuloso, descontínuo, talvez seja nesses “espaços” que a qualidade possa se encaixar! Algo como a água que adentra as rachaduras do solo! Que pena não se poder medir as qualidades como se pode medir o tempo e descobrir se elas podem ser constituídas de pequenas partes como o tempo do Planck!
        Dizemos que temos tempo, mas temos de fato ou é o tempo que nos têm em si? Estamos no tempo e ele em nós, nossos ritmos cardíacos e respiratórios o dizem, mas por quanto tempo?


        Saturno, o senhor do tempo e também o ceifador, no simbolismo astrológico rege um signo de terra (Capricórnio); a terra é o palco do tempo; além disso, Saturno se exalta em um signo de ar (Libra), que representa os atores do tempo, que atuam em parceria comigo. Ambos signos cardinais, que iniciam movimentos e que evocam a manifestação e a importância do tempo. Por outro lado, Saturno, o senhor do tempo, fica mal posicionado nos signos de Áries e Câncer. Áries é o próprio princípio ígneo que subjaz a toda manifestação e que não pode ser restrito ou subjugado pela temporalidade; Câncer é o princípio vital que clama por manifestar-se em vida e que não pode ser restrito ou subjugado senão apenas brevemente.
No devorar de seus filhos, Saturno nos ensina sobre a tensão dinâmica entre as forças dinâmicas de manifestação e perpetuação da vida em contraposição às forças de cristalização e de atrito da vida.

        Para parar o tempo, é preciso ir para bem longe. É o que as estrelas fizeram. Quando vemos uma estrela, vemos como ela foi e não como é nesse momento. Nosso sol, por exemplo, o vemos como ele foi oito minutos atrás; outras estrelas como foram há milhões de anos atrás. No mundo em que vivemos quanto mais distante um objeto de nós, mais antigo ele nos parecerá; quanto mais próximos de sua luz, mais novo.
O tempo é amigo da distância, a vida é amiga da luz.

A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreendem.