sexta-feira, 10 de maio de 2013

DIA DAS MÃES






Dr. Ricardo,
Caro amigo de sempre.

Mãe

De há muito apregoam aos quatro ventos que “ser mãe é padecer no paraíso”. Mas não se dão conta do real significado dessa afirmação. E, talvez, nem poderiam, pois ela é deveras esdrúxula, para não dizer intrigante, por aliar dois elementos díspares completamente excludentes: sofrimento e paraíso. 
O que é certo é que a mulher, como tal, está muito sujeita a sofrimentos. Um deles, realmente, é o de ser mãe. Principalmente hoje que deve conciliar todos os afazeres domésticos com o seu trabalho fora de casa, ou ainda seus estudos em andamento, levando a cabo, assim, uma dupla jornada estafante e, sendo mãe, uma jornada ainda mais exaustiva e pouco gratificante ou compensadora.  A não ser saber que entregou ao mundo um ser cuja proteção e problemas estarão sempre a seu cargo a solução.
Isto porque, cabe a ela, logo de início, a gestação desse ser, com todos os engulhos, que de início a acometem, os medos e aflições e expectativas que a assomam, combinados com sonhos mais propensos a pesadelos, a antevisões de dores do parto, nascimentos prematuros ou antevisões de problemas congênitos.
Afora, tudo isso, as implicações econômicas de consultas médicas, e os exames preventivos e de acompanhamento não cobertos pelos planos de saúde, desfalcando o já escasso orçamento familiar.
Aí, paira no ar o questionamento: porque ter filho agora? Porque não deixar para uma outra ocasião? Afinal, pelo bem ou mal, tudo ia correndo dentro de uma ordem que se não era o ideal, dava para se encaixar e encarar com certa tranquilidade.
Mas, também, como satisfazer a sexualidade, sem culpas ou temores? Como usar preservativos com efeitos colaterais de monta, que nos podem levar a tromboses, enfartos e, em última instância até a morte?
Como fazer com que no momento do ardor de uma transa o marido se conscientize de usar preservativos, que ele deplora? Como permanecer casada sem filhos, ouvindo cobranças de parentes próximos ou distantes, amigos, conhecidos, desconhecidos, com açulamentos invariáveis com ditos maliciosos de preconização de infertilidades mil?
Eta mundo insano! O que fazer? Não há jeito. A sociedade cobra, o marido quer ou exige, as políticas sociais são poucas e inidôneas e geralmente omissas, a Igreja aponta heresia em tudo que foge aos seus conformes, os governos punem, criminalizam quaisquer medidas contraceptivas. O jeito é acatar a ordem - dita natural – e rezar para que tudo dê certo.
O lema edificante consubstancia-se, deste modo, em deixar todos os sonhos de uma vida pessoal melhor, mais produtiva, e enclausurar-se na criação da prole, indefinidamente: Os filhos são para sempre! Em amor, alegrias, dores e pensares vãos, preocupações, cuidados, angústias pelas tardanças, noites mal dormidas pelos embates e disputas de somenos. Mas, também é preciso convir: Filhos são para o mundo!
Esta é a triste sina - não de vaqueiro-, mas da mulher, ainda que sonhadora ou não.
Afinal, como poetiza Vinícius de Moraes, em seu “Poema Enjoadinho”:
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Portanto, no “Dia das Mães” em prol da implantação e vigência de uma Saúde Social, ao invés de mesuras e salamaleques em torno da data, é de toda conveniência refletir, com desabusado destemor sobre: “Ser mãe é padecer no paraíso” e, assim valorizar as Mães, e não sua mera data ficcional.

Mário Inglesi

3 comentários:

  1. O dia dela é 24 horas atende a qualquer momento durante a sua vida toda e mesmo depois passando continua atendendo aos seus rebentos!

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  2. Olá queridos amigos.
    Olha, gostei muito de ler esta mensagem.
    Também sou mãe, e me vi nessas palavras também escritas.
    Obrigada.
    Lamento, que ainda no século XXI a mulher é tão desvalorizada, por aqueles que nem sabem o que são.
    É difícil viver neste mundo tão atrasado. Continuo desejando e rezando para a luz brilhar.

    Abraços.

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  3. Não sei se vocês concordam, mas, eu acho que ser mãe não é padecer no paraíso e sim, nunca mais conseguir dormir com as orelhas cobertas!

    beijos.

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