sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CIÊNCIA OU CONS-CIÊNCIA I



Existem ao menos duas ciências: uma impulsiona conhecer a matéria e a natureza, importante enquanto meio para o conhecimento, e outra impulsiona saber a essência imaterial e a graça, importante enquanto meio para o saber. Duas ciências, dois meios, dois recursos humanos que se tornam cegos quando um fim em si. Quando algo é meio, auxilia como recurso, quando algo é fim, aprisiona enquanto dogma. Matéria e natureza, essência e graça, meios para o belo nas mãos do humano artista; persiste alquimista! 

“Eis o meu segredo. É muito simples: 
só se vê bem com o coração. 
O essencial é invisível aos olhos.” 
Antoine de Saint-Exupéry

“O homem, entretanto, pode ser oposto a si mesmo de duas maneiras: como selvagem, quando seus sentimentos imperam sobre seus princípios, ou como bárbaro, quando seus princípios destroem seus sentimentos. O selvagem despreza a arte e reconhece a natureza como sua soberana irrestrita; o bárbaro escarnece e desonra a natureza, mas continua sendo escravo de seu escravo por um modo frequentemente mais desprezível que o do selvagem. O homem cultivado faz da natureza uma amiga e honra sua liberdade, mas na medida em que apenas põe rédeas a seu arbítrio.
Quando, portanto, a razão transporta para a sociedade física sua unidade moral, ela não deve ferir a multiplicidade da natureza. Quando a natureza procura afirmar sua multiplicidade no edifício moral da sociedade, isto não deve acarretar ruptura alguma à unidade moral; a força vitoriosa repousa a igual distância da uniformidade e da confusão. É preciso, portanto, encontrar totalidade de caráter no povo, caso este deva ser capaz e digno de trocar o Estado da privação pelo Estado da liberdade.”
Friedrich Schiller (1759-1805) – A educação estética do homem.






Um lenhador acordava todos os dias às 6 horas da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, só parando tarde da noite. Ele tinha um filho lindo de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança.

Todos os dias, o lenhador, que era viúvo, ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do bebê. Ao anoitecer, a raposa ficava feliz com a sua chegada.

Sistematicamente, os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um animal selvagem, e, portanto, não era confiável. Quando sentisse fome comeria a criança. O lenhador dizia que isso era uma grande bobagem, pois a raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam:

- Lenhador, abra os olhos! 

- A raposa vai comer seu filho. 

- Quando ela sentir fome vai devorar seu filho!



Um dia, o lenhador, exausto do trabalho e cansado desses comentários, chegou em casa e viu a raposa sorrindo como sempre, com a boca totalmente ensanguentada.

       O lenhador suou frio e, sem pensar duas vezes, deu uma machadada na cabeça da raposa que morreu instantaneamente.



Desesperado, entrou correndo no quarto e encontrou seu filho no berço, dormindo tranquilamente, e, ao lado do berço, uma enorme cobra morta.

O Lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.

8 comentários:

  1. Dr. Ricardo

    Numa primeira instância vê-se logo que a o fato recende a priscas eras, pois os protetores de
    animais não vieram a lume para protestar e interferir para que o lenhador fosse levado à barra
    dos tribunais por tão horrendo crime.
    Bem se nota também que a voz do povo, ao contrário do que dizem, não é a voz de Deus.
    O coitado do lenhador, levado pela voz do povo, no afã talvez de vingar-se ou safar-se do fato
    que imediatamente imaginou ter ocorrido, não se ateve a detalhes, jogou-se de pronto à insensatez
    de um crime contra o animal, que nada mais fizera do que salvar a vida do seu filho.
    Hoje, com o medo e o pânico em que a sociedade está imersa, toda e qualquer pessoa se
    encontra infelizmente na situação do lenhador, lutando, agredindo, ou matando pessoas, - não animais, - por julgarem-nas, como meras inimigas, de alta periculosidade, tais como mendigos, moradores de rua, drogados, alcoólatras, crianças abandonadas enfim, pessoa, não raro doentias ou igualmente isentas de qualquer amparo assistencial, de caráter social ou particular.
    A tais ajuizamentos e seus correlatos, junte-se, - virgem santa! - a atual situação das pessoas albinas, mortas e parte delas - eta brutalidade! doadas a rituais de magia negra, conforme notícia bastante recente publicada em jornal.
    De todo modo, a historieta é bela, a realidade é cruel e a humanidade – nem se fale! – está jogada pra escanteio.
    Mário Inglesi

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    1. Sr. Mário,

      Horrendo é bondade sua!

      O hediondo episódio bem faria se nas escolas fosse ensinado logo aos primeiros anos; antes do advento da morte do pensar.

      Os lenhadores do mundo moderno estão livres, prisioneiros de seus machados, para o que der e vier; e que ninguém mexa com seus filhos se não quiser perder a cabeça...

      De fato, a realidade é crua e a verdade nua.

      Um saudoso abraço

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  2. Parafraseando Dr. Ricardo: "De fato, a realidade é crua e a verdade nua."
    Concordo plenamente!

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    1. Pois é Luiza!

      A nudez da verdade lembra a natureza; o resto, que é preciso mais calor no coração.

      Um abraço

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  3. É triste olhar para os fatos como se pensa que são e não como de fato são: simples fatos
    Pensamentos podem ser bem traiçoeiros e percebidos como realidade.
    Bj
    Beleza Woo

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    1. É vero!

      Esse pensar nosso parece meio brigado com o coração, não?

      Beijão Beleza

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  4. Realmente, a história do lenhador faz pensar.

    Imagino, inicialmente, a imensa dor que este homem sentiu, agravada pela gratidão que devia à raposa.

    Nesta história, vejo o lenhador como nosso eu-essência, o menino como nosso eu-transitório e a raposa como Deus (ou a natureza), que nos cercam de cuidados o tempo todo.

    Numa enganosa tentativa de beneficiar (ou proteger) nosso eu-transitório reagimos automaticamente contra as disposições de Deus (e da natureza), e quando fazemos isso ferimos nosso eu-essência.

    Muito mais simples seria se conseguíssemos, de forma singela e efetiva, acolher Deus (e a natureza) em nossas vidas.

    Forte abraço,
    Alex


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    1. Simplicidade!

      Devia ter uma matéria na escola com esse nome: "Simplicidade - como fazer"

      Seria muito mais simples nessa idade ensinar simplicidade. Não é mesmo?

      Forte abraço

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